segunda-feira, 21 de setembro de 2009

os oportunismos políticos

Ontem estive numa festa de homenagem, na minha aldeia natal, ao pároco da freguesia. Daqueles homens simples, honestos e francamente verdadeiros de quem é impossível não se gostar de coração aberto. Como a idade não perdoa, pediu para se afastar do serviço da paróquia em detrimento de um padre mais novo. A Paróquia ficou triste mas compreensiva e lá lhe fez, entre outras homenagens, um almoço de despedida, onde 350 pessoas não quiseram deixar de participar. O principio de tarde estava a ser muito agradável, com o povo todo bem disposto no saudável convívio quando, para espanto de muitos dos presentes, se vê chegar o presidente da Câmara e um dos seus vereadores de trazer por casa. Resolvida a ignorar ignóbil personagem que lidera despoticamente a autarquia Caldense há cerca de duas décadas (se calhar até mais), conversava com o grupo de jovens quando sinto alguém me tocar no braço. Olho e vejo com espanto o sr. presidente dizer-me "olhe, arranje-me um copo". Assim. Sem sequer um "se faz favor". Fiquei estupidificada com tamanha desafaçatez. Que lata! Fazendo jus àquela que ainda considero ser boa formação, peguei num dos copos de plástico em cima da mesa e larguei-o à sua frente, sem mais nada, sobre o olhar jocoso e divertido dos meus amigos que observavam tamanha prepotência. Voltei para junto deles e alguns minutos depois, todos boqueabertos, vimos o tipo pegar num microfone e atrever-se a dizer que tinha vindo ali porque apreciava muito o Sr. Pe Eduardo e que não podia deixar de ali ir deixar-lhe o seu apreço e amizade, ainda mais porque tinha estado no seminário durante 7 anos e, concerteza, se sentia ali peixe na água. É pena que tantos anos de formação católica não o tenham ensinado qualquer coisinha mais de seriedade, embora saibamos que transparência e honestidade não se coadunam com a política, já o dizia Hannah Arendt.
Bem, posto isto, lá levou uns aplausos da maioria de idosos e semi-idosos que, há cerca de duas décadas, o ajudam a eleger, cegamente, e continuarão a fazê-lo até que as pernas não lhes doam.
Escusado será dizer que pousou o microfone e desapareceu. Será que para manifestar a amizade é preciso proclamá-la aos altifalantes? Melhor figura fez o presidente da Junta que se limitou a ir almoçar com a sua esposa, discretamente, sem fazer alarido. Apesar de serem da mesma cor política, parece que este não precisou de 7 anos de seminário para perceber qual é o seu lugar.