sábado, 28 de março de 2009

O Estado da nossa Cultura

Cheguei há uns dias de uma pequena passagem por Paris. Em 7 dias eu e o meu marido calcorreámos a cidade quase de lés a lés. O bom de se sair do nosso país é perceber as diferenças que existem a todos os níveis, os pontos positivos e os negativos. A verdade é que não podemos tentar igualar um país como o nosso com uma grande potência mundial como é Paris, mas existem alguns pontos que gostava de realçar. Acima de tudo fiquei esmagada com a capacidade que as instituições culturais têm de se manterem, o esquema bem montado que se vive nestes grandes centros artísticos. Na nossa visita ao Louvre deu para perceber o que é realmente a realidade museológica onde todas as funções e cargos típicos dos museus funcionam em pleno. Lá há trabalho de sobra para conservadores/restauradores, para curadores, guardas de museu, etc, etc. Claro que falamos do Louvre, mas a verdade é que em Paris, em todo o lado se dá de caras com ofertas culturais, pelo menos 50% dos outdoors são de promoção a museus, concertos, exposições, etc. Uma pequena parte é a empresas. No Metro há publicidade por todo o lado, muitas vezes sabemos dos eventos exactamente durante as viagens subterrâneas. Aliás, tudo começa quando se chega ao aeroporto, em contraste com o que se passa quando se chega a Portugal, cuja única publicidade que pudemos constatar foi às novas torres do Colombo... enfim, sem palavras!
No entanto, há um lado nos franceses que não gostámos nada, a sua falta de respeito pelos peões, por exemplo. Em 7 dias de passeio por Paris apenas uma vez alguém se dignou parar para nos dar passagem numa passadeira para peões sem semáforo. Uma vergonha. Outra situação que achámos fraudulenta foi a da VELIB-aluguer de bicicletas. O sistema está bem montado e é bem interessante. No entanto, para quem não conhece bem Paris é bastante perigoso. Isto porque, acima de tudo, os condutores em geral não respeitam os ciclistas nem as vias próprias. Como em Paris quase não há espaço para estacionamento nas ruas, os condutores acabam por estacionar à má fila nas vias para ciclistas, fazendo com que estes sejam obrigados a se deslocarem para a estrada. E com o trânsito caótico que se vive em Paris, conduzir uma bicicleta pode ser um autêntico suicídio!
Mas vá, é uma cidade linda e fantástica.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Do melhor…só pra recordar o Esteves Cardoso.

Um dos grandes problemas da nossa sociedade é o trauma da morada. Por exemplo. Há uns anos, um grande amigo meu, que morava em Sete Rios, comprou um andar em Carnaxide. Fica pertíssimo de Lisboa, é agradável, tem árvores e cafés. Só tinha um problema. Era em Carnaxide. Nunca mais ninguém o viu.

Para quem vive em Lisboa, tinha emigrado para a Mauritânia! Acontece o mesmo com todos os sítios acabados em -ide, como Carnide e Moscavide. Rimam com Tide e com Pide e as pessoas não lhes ligam pevide. Um palácio com sessenta quartos em Carnide é sempre mais traumático do que umas águas-furtadas em Cascais. É a injustiça do endereço. Está-se numa festa e as pessoas perguntam, por boa educação ou por curiosidade, onde é que vivemos. O tamanho e a arquitectura da casa não interessam. Mas morre imediatamente quem disser que mora em Massamá, Brandoa, Cumeada, Agualva-Cacém, Abuxarda, Alformelos, Murtosa, Angeja… ou em qualquer outro sítio que soe à toponímia de Angola. Para não falar na Cova da Piedade, na Coina, no Fogueteiro e na Cruz de Pau. (...) Ao ler os nomes de alguns sítios – Penedo, Magoito, Porrais, Venda das Raparigas, compreende-se porque é que Portugal não está preparado para entrar na CEE.

De facto, com sítios chamados Finca Joelhos (concelho de Avis) e Deixa o Resto (Santiago do Cacém), como é que a Europa nos vai querer integrar?
Compreende-se logo que o trauma de viver na Damaia ou na Reboleira não é nada comparado com certos nomes portugueses. Imagine-se o impacte de dizer "Eu sou da Margalha" (Gavião) no meio de um jantar. Veja-se a cena num chá dançante em que um rapaz pergunta delicadamente "E a menina de onde é?", e a menina diz: "Eu sou da Fonte da Rata" (Espinho).
E suponhamos que, para aliviar, o senhor prossiga, perguntando "E onde mora, presentemente?", só para ouvir dizer que a senhora habita na Herdade da Chouriça (Estremoz).

É terrível. O que não será o choque psicológico da criança que acorda, logo depois do parto, para verificar que acaba de nascer na localidade de Vergão Fundeiro? Vergão Fundeiro, que fica no concelho de Proença-a-Nova, parece o nome de uma versão transmontana do Garganta Funda. Aliás, que se pode dizer de um país que conta não com uma Vergadela (em Braga), mas com duas, contando com a Vergadela de Santo Tirso? Será ou não exagerado relatar a existência, no concelho de Arouca, de uma Vergadelas? É evidente, na nossa cultura, que existe o trauma da "terra". Ninguém é do Porto ou de Lisboa.

Toda a gente é de outra terra qualquer. Geralmente, como veremos, a nossa terra tem um nome profundamente embaraçante, daqueles que fazem apetecer mentir. Qualquer bilhete de identidade fica comprometido pela indicação de naturalidade que reze Fonte do Bebe e Vai-te (Oliveira do bairro). É absolutamente impossível explicar este acidente da natureza a amigos estrangeiros ("I am from the Fountain of Drink and GoAway...").

Apresente-se no aeroporto com o cartão de desembarque a denunciá-lo como sendo originário de Filha Boa. Verá que não é bem atendido.(...) Não há limites. Há até um lugar chamado Cabrão, no concelho de Ponte de Lima.
Urge proceder à renomeação de todos estes apeadeiros. Há que dar-lhes nomes
civilizados e europeus, ou então parecidos com os nomes dos restaurantes giraços, tipo Não Sei, A Mousse é Caseira, ou Vai Mais um Rissól.(...)
Também deve ser difícil arranjar outro país onde se possa fazer um percurso
que vá da Fome Aguda à Carne Assada (Sintra) passando pelo Corte Pão e Água
(Mértola), sem passar por Poriço (Vila Verde), e acabando a comprar rebuçados em Bombom do "Bogadouro"¹, (Amarante), depois de ter parado para fazer um chi-chi em Alçaperna (Lousã).


¹ - Bogadouro é o Mogadouro quando se está constipado!!!

(Miguel Esteves Cardoso)

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Reciclagem

Tenho cá em casa alguns monos velhos que não sei que lhes hei-de fazer, principalmente impressoras. Lembrei-me do anúncio que dá na Tv sobre a Amb3e e fui espreitar o site, talvez esta fosse uma hipótese de me ver livre deste fado. O giro é que eles anunciam que os há em quase todas as superfícies comerciais do país, mas isso é treta, há alguns na área de Lisboa e...e. depois pus-me a pensar: tenho que sair de casa, carregar as impressoras, meter-me no carro e andar uns bons kilómetros, menos de 20 nunca serão, para encontrar um ponto de recepção de equipamentos usados, chego, coloco e, no fim, o que é que eu ganho com isso? Quando posso, simplesmente, colocá-los no ecoponto à porta da minha casa onde alguém se dará ao trabalho de recolher e fazer chegar aos lugares próprios? Afinal, não é para isso que pagamos todos os meses a taxa do lixo? Para, supostamente, alguém recolher os nossos restos e zelar para que eles sejam tratads e reciclados condignamente?
Para além disso, fui também verificar no dito site o que acontece com o equipamento usado que lá é depositado e, claro, não dizem nada a respeito. Como sempre. O mais certo é que alguém vá reciclar aquilo tudo que nós lá entregamos de graça, muitas vezes fazendo uma porrada de kilómetros para lá chegar, de carro obviamente, porque estas coisas não se transportam nos transportes públicos, gastando o belo do combustível que, como todos sabemos, está pelas horas da morte e, no fim de tudo, alguém vai pegar gratuitamente nos nossos moribundos equipamentos, reciclá-los e depois fazer dinheiro com isso. É óbio. E nós, continuamos a gastar uma enormidade todos em meses em taxas para pagar um trabalho que somos nós que fazemos, que nos damos ao trabalho de separar nas nossas casinhas, comprando caríssimos ecopontos caseiros, só com a feliz compensação que estamos a contribuir para um mundo mais puro e ecológico. Como sempre, há uma minoria que anda a viver à custa da maioria e até o planeta entra na berlinda.
Sou defensora acérrima da reciclagem e do aproveitamento dos recursos, devemos proteger o nosso planeta, mas não aceito que algumas pesosas se aproveitem disso para continuar a fazer dinheiro. Afinal, segundo aquilo que eu percebi sobre o processo, tudo o que é reciclado é transformado noutros produtos, muitas vezes em coisas que não lembra nem ao diabo de tão originais que são. Logo, esses produtos irão ser comercializados e quem o faz vai ganhar dinheiro com isso. Este é o processo normal de qualquer indústria: compra a matéria-prima, transforma-a em algo, vende e faz dinheiro. A minha única questão aqui é o primeiro ponto, será que as empresas que utilizam materiais reciclados compram a matéria-prima? Das duas uma: se não o fazem estão a usar matéria-prima gratuita, logo, o lucro será maior porque fomos nós quem lha oferecemos; se a pagam, alguém está a ganhar dinheiro à custa da matéria prima gratuita que fomos nós que oferecemos. Ou seja, um dos dois está a encher-se à custa do ingénuo contribuinte que recicla o papel, o plástico, o vidro, o que quer que seja que polui o planeta, paga a taxa do lixo e, depois disso, quando volta para casa com o coração purificado do sentido do dever cumprido, enquanto isso, está uma indústria ou o Estado a encher os bolsos, tudo à conta do nosso desperdício. Afinal, deveríamos ser nós a receber do Estado a taxa do lixo e não ao contrário! Que droga de vida!